quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cara Béssi,

a sua última carta chegou-me com censura dos correios. Aparentemente, um dos funcionários (esperemos que não ocupe um cargo muito alto - o que poderia vir a constituir um grande problema em futura correspondência - ou que, pelo menos, não se leve muito a sério, nem à sua função )não aprovou o conteúdo e foi bastante objectivo na observação que inscreveu de mão firme - "i didn't like this blog". Fico a pensar que, novamente, me vejo obrigada a não enviar, pelo menos para já, aqueles rótulizos que tanto gosta de coleccionar ( o que é uma pena porque tenho aqui três de umas garrafas muito vintage que tive a oportunidade de adquirir naquela pequena taberna da Calle Nicaragua). Além disto, e reflectindo um pouco mais sobre esta observação do sr. Hemant Saluja, pergunto-me porque razão ele terá começado a sua observação reprovadora com um polido "hello". Irrita-me um pouco porque me faz lembrar alguns alcoólicos nórdicos insuportáveis que, antes de iniciarem uma abordagem absolutamente desnecessária e, até, altamente inconveniente, se sentam na nossa mesa com cumprimentos educados. Julgo que partilha da mesma opinião que eu. É um golpe sujo. Por outro lado, e admitindo que estes costumes são comuns e aceites em Nova Deli, porque razão então a observação não foi redigida na nossa língua? Mais uma prova de golpe sujo. Arrogência. Porque se as suas cartas foram lidas (uma vez que foram censuradas) e todas elas estão redigidas em português antigo, o sr. Hemant deveria ter tido a delicadeza de responder também em português. Ou então o sr. Hemant não percebe português e então o caso é mais grave e maior é o insulto. Inclino-me para a hipótese de não gostar das flores. Nem de papel de parede. Ou então o sr. Hemant, na sua secretária, reflectiu rapidamente e chegou à conclusão que censura tem de ser o mais abrangentemente possível compreendida e lá achou que "hello, i didn't like this blog" estava muito bem.
Não é que a opinião do sr. Saluja me interesse - há muito que sabemos que as cartas já não são privadas e até já foram lidas em muitas tabernas de segunda, por gente que mais tarde se revelou ser absolutamente execrável - mas eu, pessoalmente, não suporto ser comentada por gente que diz "sometimes novels".

De resto, tudo bem. Aqui está húmido. O dia cola-se aos braços. Talvez desça até à praça e apanhe um autocarro.

Sem comentários: